terça-feira, 13 de julho de 2010

Memória no álcool

Paulo é um senhor que vive pelas redondezas do colégio Regente, no centro da cidade de Ponta Grossa. Com dificuldades para se locomover, encosta-se em qualquer batente ou parede para 'apreciar' sua bebida. Ex-funcionário de uma tinturaria, Paulo se recorda de muitas histórias vividas e as divide com quem tem paciência para escutar. Na ocasião deste registro, ao sair do prédio em que eu moro, escutei a inconfundível risada desse senhor de olhos azuis. Ohei para o lado, ajustei a máquina, foco, enquadramento e disse: acho melhor o senhor parar de beber por hoje!

Assim que abaixei a lente, Paulo respondeu, aparentemente, sem nexo algum: minha mãe morreu em 58 e meu pai em 68.

Mesmo sem entender o motivo pelo qual resolverá me contar aquilo, elogiei a boa memória daquele idoso com olhar parado graças a, pensava eu, bebida. Rindo, ele me fez refletir quando disse que se tratavam de lembranças do passado conservadas no álcool. Judiado ou, realmente, confortado pelo álcool? Talvez as duas coisas. Não cabe a mim, julgar.

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©2007 '' Por Elke di Barros